sábado, 8 de março de 2014

MORDAÇA

Por Jefferson Rocha


Nesta semana um microfone do Vale do Aço foi desligado à bala! O crime que chocou a sociedade aqui no Leste vai muito além do crime em si. Muito além da estatística, do ocorrido, do fato, do crime, da notícia. Vai além e muito além de tudo isso. 

O que cerca todo o acontecimento é muito sério. Preocupa muito todos os arredores do brutal assassinato do colega jornalista e radialista Rodrigo Neto. A pistolagem chegou ao Leste de Minas da maneira mais covarde que se pode imaginar. Chegou em forma de intimidação. Chegou para dizer: “Cuidado! Pois disposição para calar-vos temos de sobra!”

Quando criança, lembro-me claramente da pistolagem em um Nordeste sem lei. Morando no sertão alagoano, vi muitos líderes tombarem porque defendiam os “menos favorecidos”... Padres, pastores, sindicalistas, políticos. Se de algum modo o formador de opinião incomodava, ele era silenciado à bala. Lembro de vereadores que andavam de bicicletas e não demoravam a cair. Os das grandes picapes tinham mandatos duradouros. Eu era um menino e não entendia o porquê.

O que me espanta é que tudo isso que conheci, achei que tinha ficado no passado. Enganei-me de novo. O tipo de crime ocorrido com alguém tão próximo fez com que essa realidade voltasse como um soco no estômago de toda a classe, ou pior, de toda a sociedade. Pistolagem é brutal e arcaica. É tão grave que a sociedade não pode esperar para tomar uma atitude.

É hora dos gestores da comunicação do Vale do Aço sentarem e conversarem entre eles. Caminhadas com camisetas brancas não vai resolver, protestos silenciosos não vão resolver, atos simbólicos contra a violência não vão adiantar. É hora da ação direta. A sociedade não pode ficar à mercê desse tipo de violência brutal. Brutal pela violência em si e brutal por reprimir o direito de se expressar.

Tudo é muito sério! Essa banalização da violência é o pior inimigo nessa guerra que estamos perdendo. O crime que não choca mais, que se tornou comum. Estamos perdendo nossa capacidade de indignação. E quando essa indignação acabar de vez... acaba a guerra. E a sociedade é derrotada.

O que proponho não é transformar a morte de um colega em exemplo de martírio, mas que pelo menos esse acontecimento trágico, que dói tanto pela proximidade, não seja em vão.


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